Alternativas de origem vegetal aos laticínios: Perspetivas dos Nutricionistas em Portugal
Last Updated : 12 June 2025As alternativas vegetais aos laticínios, tais como bebidas vegetais e alternativas vegetais ao iogurte, por exemplo, soja, aveia, frutos oleaginosos, arroz ou coco, têm-se tornado cada vez mais populares nos últimos anos. Para compreender a opinião dos nutricionistas em Portugal sobre estes produtos, o EUFIC realizou um inquérito online entre março e maio de 2025. O inquérito foi partilhado com a Associação Portuguesa de Nutrição. Foi também distribuído a instituições académicas que oferecem programas de dietética e nutrição. Além disso, o inquérito foi partilhado através das plataformas de redes sociais do EUFIC e dos influenciadores portugueses da rede do EUFIC. Um total de 139 profissionais de nutrição (incluindo estudantes do 4° ano de licenciatura ou estudantes de mestrado - 16%) completaram o inquérito. Destes, 64% trabalham diretamente com clientes/pacientes.
Este resumo apresenta as principais conclusões da investigação.
Crenças e conhecimentos gerais
A esmagadora maioria dos nutricionistas (93%) concordou que as alternativas vegetais aos laticínios podem fazer parte de uma dieta saudável. A maioria dos profissionais inquiridos reconheceu que estas alternativas são isentas de lactose (94%), de colesterol (60%) e que o perfil nutricional das mesmas varia consoante a fonte vegetal a partir da qual são produzidas (90%). No entanto, as opiniões sobre o facto de as alternativas vegetais serem mais processadas do que os laticínios foram díspares, uma vez que 44% concordaram com esta afirmação, 17% discordaram, 35% não concordaram nem discordaram e 4% indicaram que não sabiam.
Os nutricionistas aprovaram amplamente a fortificação destes produtos com vitaminas ou minerais, com 96% a considerar que as alternativas vegetais aos laticínios devem ser fortificadas. No entanto, estes profissionais tendem a subestimar o nível de fortificação em Portugal. Enquanto 80%1 das alternativas vegetais no mercado português são fortificadas com pelo menos um micronutriente, os participantes, em média, estimaram esta percentagem em 52% (as estimativas individuais variaram amplamente de 20% a 100%). O cálcio, a vitamina D e a vitamina B12 foram os micronutrientes mais comuns indicados pelos nutricionistas como utilizados na fortificação destes produtos em Portugal.
Utilização atual na prática profissional
Entre os nutricionistas que trabalham diretamente com clientes (ou pacientes), muitos (45%) referiram recomendar alternativas vegetais aos laticínios a 10% - 30% dos seus clientes. Trinta por cento recomendavam estes produtos a mais de 30% dos seus clientes e cerca de um quarto recomendava-os a menos de 10% dos seus clientes. Uma reduzida percentagem dos profissionais inquiridos (1%) indicou nunca recomendar alternativas de origem vegetal aos laticínios. Entre os profissionais cuja prática atual não envolve o atendimento direto a clientes ou pacientes, 86% recomendariam estes produtos aos consumidores.
O que poderá explicar estas diferenças? Quanto maior era a percentagem de alternativas vegetais aos laticínios que os nutricionistas consideravam fortificadas com micronutrientes em Portugal, maior era a probabilidade de recomendarem estes produtos. Adicionalmente, os profissionais que consideravam as alternativas vegetais nutricionalmente equivalentes aos laticínios (9%) tendiam a recomendá-las com mais frequência do que aqueles que as consideravam nutricionalmente superiores (5%), sugerindo que a perceção de superioridade nem sempre se traduz em recomendações mais frequentes. De referir ainda que, quanto mais frequentemente os próprios profissionais consumiam estes produtos, maior era também a probabilidade de os recomendarem.
Quarenta por cento dos nutricionistas recomendariam alternativas vegetais aos laticínios para aumentar a diversidade da dieta ou para acomodar as preferências de sabor e textura. No entanto, as razões mais comuns para a recomendação de alternativas vegetais incluíam o controlo da intolerância à lactose ou alergias a produtos lácteos (96% dos inquiridos mencionaram esta razão) e a adaptação a dietas veganas ou à base de produtos de origem vegetal (citada por 86% da amostra), assim como restrições alimentares relacionadas com a cultura ou religião. Outras razões, como a sustentabilidade ou a gestão de doenças crónicas, foram citadas com menor frequência.
Papel das alternativas vegetais aos laticínios na dieta
Embora se tenha verificado um consenso de que as alternativas de origem vegetal podem desempenhar um papel numa dieta saudável, as opiniões variaram quanto ao seu papel específico em relação aos laticínios. Quarenta e seis por cento dos nutricionistas acreditam que estes produtos podem substituir totalmente os laticínios. Entre estes, a maioria (84%) considera que apenas as alternativas vegetais fortificadas podem substituir totalmente os laticínios. Vinte e sete por cento da amostra considera que as alternativas vegetais só podem substituir parcialmente os laticínios e 19% considera que devem complementar os laticínios sem os substituir. Apenas 8% consideram que estes produtos não podem substituir de todo os laticínios.
Essas perceções estavam intimamente ligadas às atitudes dos profissionais na recomendação de alternativas vegetais aos consumidores. Entre aqueles que acreditavam que as alternativas de origem vegetal, independentemente da fortificação, podem substituir totalmente os laticínios, a maioria (60%) recomendaria qualquer uma das versões. Em contraste, apenas as versões fortificadas foram recomendadas por 82% dos que entendiam que a fortificação é um requisito para que estes produtos substituam totalmente os laticínios e 63% dos que viam as alternativas vegetais como complemento dos laticínios sem os substituir. Aqueles que consideravam que alternativas vegetais substituíam parcialmente os laticínios estavam mais divididos nesta questão, pois 54% recomendariam apenas as versões fortificadas destes produtos e 46% recomendariam qualquer uma das versões. Os que consideram que estes produtos não podem substituir os laticínios também têm opiniões mistas, com 46% dispostos a recomendar apenas alternativas vegetais fortificadas e 46% dispostos a recomendar qualquer uma das versões.
Quando solicitados a comparar o valor nutricional das alternativas vegetais com os produtos lácteos, 66% da amostra considerou as alternativas de origem vegetal como nutricionalmente equivalentes aos produtos lácteos. Destes, a maioria dos profissionais de nutrição (87%) considerou que a equivalência nutricional depende da fortificação (ou seja, apenas as alternativas vegetais fortificadas são nutricionalmente equivalentes aos laticínios). Quase um quarto da amostra identificou as alternativas vegetais como nutricionalmente inferiores, enquanto 9% consideraram que são nutricionalmente superiores aos laticínios, embora as opiniões divergissem sobre se a superioridade depende da fortificação (ou seja, 42% consideraram que apenas alternativas vegetais fortificadas podem ser superiores aos laticínios).
Inclusão nas diretrizes alimentares e recomendações nutricionais
A grande maioria dos nutricionistas (76%) menciona ser a favor da inclusão de alternativas vegetais aos laticínios nas diretrizes alimentares e recomendações nutricionais, com apenas uma pequena percentagem (4%) a opor-se e 19% a não tomar uma posição devido à falta de informação. Entre os que se mostraram favoráveis à inclusão, a maioria (62%) apoiou a inclusão apenas das versões fortificadas.
Quanto aos destinatários destes produtos, se incluídos nas diretrizes alimentares, apenas 14% consideram que devem ser recomendados à população em geral. Em vez disso, os profissionais de nutrição consideraram o seu valor principalmente para grupos específicos, tais como indivíduos com dietas restritas (por exemplo, veganos, pessoas com intolerância à lactose) (74%), adultos (52%), pessoas que já consumiam estes produtos (48%) e séniores (36%). Uma menor percentagem recomendaria estes produtos para idades mais jovens ou para pessoas com problemas de saúde específicos.
O apoio à inclusão de alternativas vegetais aos laticínios nas orientações nutricionais nacionais foi associado a vários fatores. Os nutricionistas que reconheciam as alternativas vegetais como isentas de lactose (94%) tinham 14 vezes mais probabilidades de apoiar a sua inclusão, e aqueles que acreditavam que eram produtos mais sustentáveis do que os laticínios (32%) tinham quase cinco vezes mais probabilidades de o fazer. Não obstante, as opiniões relativas ao carácter ecológico das alternativas vegetais eram mistas, com 32% a concordar com a afirmação de que alternativas são mais ecológicas do que os laticínios, 16% a discordar desta afirmação, 43% a não concordar nem discordar e 9% a indicar que não sabiam. Além disso, aqueles que consideravam que apenas as alternativas vegetais fortificadas são nutricionalmente equivalentes aos produtos lácteos (39%) tinham quase 14 vezes mais probabilidades de apoiar a sua inclusão, em comparação com aqueles que pensavam que as alternativas vegetais são nutricionalmente equivalentes aos produtos lácteos, independentemente da fortificação, reforçando assim, mais uma vez, a relevância das perceções de fortificação. Por fim, quanto mais frequentemente os nutricionistas consumiam alternativas de origem vegetal aos laticínios, maior era a probabilidade de apoiarem a sua inclusão nas diretrizes alimentares.
Outras perceções
Muitos nutricionistas (68%) acreditam que as alternativas vegetais são geralmente mais caras do que os produtos lácteos. No entanto, as opiniões dividiram-se mais quanto ao sabor , com 41% a discordar da afirmação de que as alternativas vegetais são menos saborosas do que os laticínios, 12% a concordar com a afirmação, 44% a não concordar nem discordar e 4% a indicar que não sabiam.
Conclusão
Os resultados revelam que os nutricionistas em Portugal apoiam, em geral, a inclusão de alternativas de origem vegetal aos laticínios na dieta e nas diretrizes alimentares, particularmente quando estes produtos são fortificados com micronutrientes. A maioria dos profissionais de nutrição considera as alternativas vegetais adequadas para necessidades nutricionais específicas, em vez de os recomendar para a população em geral. No entanto, houve menos consenso relativamente ao seu papel específico na dieta, em comparação com os laticínios. A aprovação das alternativas vegetais por parte dos profissionais está intimamente ligada às perceções sobre a fortificação, o valor nutricional e a sustentabilidade em comparação com os produtos lácteos, o facto destes produtos serem naturalmente isentos de lactose, e os padrões de consumo pessoal. Uma orientação e comunicação mais claras sobre estes aspectos poderiam ajudar os nutricionistas a tomar decisões mais informadas sobre a incorporação de alternativas vegetais aos laticínios nas suas recomendações nutricionais.